Entrevista: ÁTOA


Quartel das Artes. Oliveira do Bairro. 17 de fevereiro de 2017.



“Já não somos os miúdos de Évora, somos os ÁTOA”




Foi no dia 17 de fevereiro, dia em que festejávamos os 67 anos do Jornal da Bairrada, que os ÁTOA subiram ao palco do Quartel das Artes, em Oliveira do Bairro, para apresentar o novo álbum “Sem Noção”. Esta banda portuguesa de pop surgiu em 2015 e é resultado da união entre quatro amigos de Évora, Guilherme Alface (voz, guitarra, piano), João Direitinho (guitarra, voz), Rodrigo Liaça (bateria, percussão, voz) e Mário Monginho (baixo, guitarra). Estes jovens, que ainda têm a “Idade dos Inquietos” (nome do primeiro álbum), 21 anos, estiveram à conversa com o JB para nos revelar um pouco da sua história e deste novo trabalho.

Como é que começou este projeto? Foi “ÁTOA”?
A banda surgiu há três anos e meio, no verão. A malta começou a juntar-se para tocarmos juntos, para nos divertirmos, e às tantas começámos a gravar uns originais. Entretanto decidimos pôr as nossas músicas numa plataforma chamada Tradiio e foi aí que surgiu o interesse da Universal Music. Mostrámos-lhe mais músicas que tínhamos e eles quiseram assinar connosco. Isto é resumo, mas a verdade é que no início foi tudo muito à toa, daí o nome “ÁTOA”. Nós não combinávamos ensaios, por exemplo. Encontrávamo-nos na cidade (centro histórico de Évora ao qual o grupo chama “cidade”) e decidíamos que amanhã íamos tocar.

Quando começaram este projeto tinham 18 anos. Como foi encarar o sucesso com essa idade?
Foi relativo. O sucesso em termos da própria música foi conquistado à cerca de um ano e meio. Foi tudo muito gradual, não aconteceu de um dia para o outro, em que numa segunda-feira estava tudo normal e na quinta-feira as pessoas já vinham pedir fotografias e autógrafos. Não, aconteceu tudo gradualmente, música a música. Agora já sentimos a diferença. Se pensarmos como era tudo no início e como é hoje, sentimos muita diferença, a responsabilidade é maior. Agora já não somos os miúdos de Évora, somos os “ÁTOA”.

Como é trabalhar com quem realmente se gosta? É que são quatro amigos que se conhecem há muitos anos...
Já gostámos mais (risos). É preciso saber distinguir as coisas. Claro que há momentos em que concordamos e outros em que discordamos uns dos outros. Um gostava de fazer de uma forma e outro de outra. Mas nós sabemos que há momentos em que somos colegas e há momentos em que somos amigos. Acho que a parte da amizade aqui ajuda, na medida em que conseguimos estar sempre ao lado uns dos outros.

Vocês consideram que as vossas músicas são um espelho. São o espelho da vossa personalidade?
Totalmente! Todas as nossas músicas refletem a nossa boa disposição, a nossa diversão. As nossas letras, por exemplo, têm momentos irónicos e com piada, porque nós também somos um bocado isso. Nós somos assim e as nossas músicas não descoram disso.

Cantar apenas em português é um dos vossos principais objetivos. É difícil fazer boa música na nossa língua?
O português comparativamente ao inglês é muito mais difícil de trabalhar musicalmente, por exemplo. Ainda para mais na nossa área que é o pop, em que tens de ir buscar o que é simples e objetivo sem cair no que é óbvio. Daí o português ser um bocadinho mais complicado do que as outras línguas. Mas acho que nos temos safado bem e a letra é uma das nossas maiores preocupações em cada música. A música portuguesa evolui muito e, neste momento, conseguimos explorar mais estilos em português do que há uns anos atrás.

Como é que quatro jovens de Évora trabalham de forma a marcar uma posição no panorama musical português?
Nós nunca pensámos que estávamos a trabalhar, por isso é que correu bem (risos). Claro que agora já fazemos as coisas com pés e cabeça, com rigor. Mas, no início, queríamos era fazer uma coisa nossa. Uma coisa com um sentimento nosso. Quando surgiu um bocadinho de sucesso, percebemos que estava na altura de as coisas serem mais a sério. Mas claro que nunca nos esquecemos do Alentejo! Houve uma altura em que, a meio do concerto, nos apetecia cantar uma moda alentejana e cantávamos.

“Sem noção” é o vosso novo álbum. De que nos fala este trabalho?
Fala um bocadinho de tudo. Musicalmente é um trabalho que tem uma linguagem mais atual, mais rock, mais fresh. Encontrámos neste álbum aquilo que somos neste momento: uma banda jovem que está a viver o sonho, que se está a divertir, que quer estrada. A nível lírico não mudámos muito em relação ao nosso primeiro trabalho, “Idade dos Inquietos”, até porque isso é a nossa imagem de marca. É essa boa disposição, essa forma descontraída de olhar para os problemas. Para os próximos trabalhos prometemos ser ainda mais arrojados.

Isso quer dizer que já pensaram no futuro ou isto já não está na vossa mão?
(Risos . "Já não" é um dos êxitos da banda). O futuro está sempre na nossa mão e está próximo. Estamos prestes a lançar um novo single que deve sair no início de março. Felizmente o futuro está, cada vez mais, nas nossas mãos. Cada vez mais temos uma visão alargada das coisas, estamos cada vez mais ativos em todos os aspetos e isto está a fazer com que o projeto se torne mais verdadeiro e real. Sempre foi, mas estamos a chegar à fase em que isto é um projeto transparente. Neste momento trabalhamos a saber que caminho queremos seguir, que caminho temos que seguir. E há uma coisa muito importante no meio disto tudo, um fator muito importante, que é o amor. O amor que temos naquilo que fazemos.

Susana Pereira Oliveira

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