Entrevista: Ana Leitão

Entrevista a... Ana Leitão. 
Estudante de Arquitetura, nasceu a 08 de junho de 1992, tem 25 anos. 


“A vida só faz sentido se fores evoluindo e te fores tornando numa versão melhor de ti”



A Ana é minha amiga há quase quatro anos. Conhecia-a quando entrei na Escola Superior de Educação de Viseu para me licenciar em Comunicação Social. A Associação de Estudantes ligou-nos e, desde então, a nossa amizade cresceu.  E podia está aqui a escrever mais 20 linhas sobre esta rapariga de Cinfães que não tem sonhos, mas sim desejos. Mas não consigo, porque ela diz tudo aqui. A Ana é feliz e é a forma como ela vê o mundo, "mais ou menos colorido", que lhe dá a certeza disso. Foi uma conversa sem tabus. Foi uma conversa de amigas. 

Licenciada em Comunicação Social e Pós-Graduada em Comunicação e Marketing. O que fez ingressar neste mundo do jornalismo?
Não soube o que queria ser 'quando fosse grande' até muito tarde. Na verdade, sempre quis ser muitas coisas. A primeira coisa que me lembro de querer ser foi bióloga marinha, mas, na altura, tinha de ir estudar para as ilhas e a ideia foi-se atenuando com o drama da distância. Durante o ensino secundário, mesmo sem que me desse conta, o jornalismo foi estando sempre presente. Escrevi para a Revista Escolar, tentei reabrir a rádio, ia sendo escolhida para apresentar saraus e eventos... e depois fiz os testes psicotécnicos. E o resultado foi exatamente comunicação. Antes de terminar o ensino secundário, anunciei à família que era isso que ia ser: jornalista (...) quando perceberam que era a sério, apoiaram-me incondicionalmente e estiveram sempre orgulhosos da minha escolha. 


Foste fundadora e diretora do jornal da Associação de Estudantes da Escola Superior de Educação de Viseu, o E-Line...
Este foi talvez o projeto mais ambicioso em que me envolvi. Foi o simbolismo de dizer 'a ESEV merece mais'. E, depois, foram todos os esforços que precisamos de empregar para tornar isso possível. A nossa escola era das poucas (se não a única) com um curso de Comunicação em que não existia um canal de comunicação. Existia, na altura, um projeto de televisão, mas estava adormecido há anos. Por isso eu e a Daniela Guerreiro, a 'mãe' do E-Line, achámos que era hora de criar uma plataforma online com conteúdos que interessassem à comunidade escolar. O Jorge Loureiro, presidente da AEESEV na altura, foi o pilar que precisávamos. Não sei se alguma vez duvidou, mas apoiou sempre a 200% e foi, sem dúvida, uma ajuda fundamental. Foram meses de trabalho e, durante três anos, este jornal foi um dos projetos de que mais me orgulho. Além das publicações online regulares, lançámos três edições impressas comemorativas dos aniversários, fizemo-nos ler nos cinco continentes, chegámos às mãos dos grandes senhores da imprensa nacional e estivemos, algumas vezes, no centro da polémica. Este projeto fez-se de muitas pessoas, com vontade de o fazerem bem. Todos os diretores que se seguiram a mim, os colaboradores e os presidentes da AE fizeram de tudo para que o projeto corresse bem. E correu. Pelo menos sinto que sim e que me vim embora com o sentimento de dever cumprido.    


Exerceste jornalismo, mas, numa fase da tua vida, foste abraçar um desafio novo. Decidiste lutar por um sonho e, por causa disso, estás na Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto a tirar um Mestrado Integrado em Arquitetura. Porquê este novo rumo?
Quando fiz a minha candidatura ao Ensino Superior mudei várias vezes as duas primeiras opções, que eram Ciências da Comunicação e Arquitetura. Acabei por, não sei ainda bem como, escolher comunicação. Na altura, a Arquitetura parecia-me um mundo assustador. Sempre gostei, sempre (...) mas estudei numa escola onde não pude ter Geometria Descritiva nem Desenho e achei que não ia para Arquitetura fazer nada, que não ia estar ao nível dos meus colegas. Foi medo. Mas como acredito muito no karma e no destino, eu soube que era a hora certa. Percebi que me tinha dado o clique e que, há dois anos atrás, depois de ter mudado de casa, de cidade e de vida, pensei: ou tentas agora ou nunca mais. E tentei! Éramos 15 candidatos e duas vagas. Quando soube que entrei pensei; agora agarra-te, porque estava escrito que isto era mesmo para ti. 


Fora da universidade tens projetos pessoais, como o blog "Em Saltos Altos".
Eu sempre tive muitas coisas para dizer ao mundo. Pelo menos achava que tinha. Sempre escrevi muito. Acho que ninguém sabe disto, nem a minha família, mas tenho algumas capas em casa com textos que escrevia e que nunca tive coragem de mostrar. Eu sabia que tinha coisas para dizer, mas não sabia até que ponto alguém as queria realmente ler. Há coisas que a maturidade vai trazendo e achei que estava na hora de arriscar. Quando lancei o "Em Saltos Altos" não fazia ideia do que ia acontecer depois. Lia blogues, acompanhava o trabalho de algumas pessoas, mas não sabia nada sobre o assunto. Fui descobrindo e fui tentando percorrer o meu caminho e deixar a minha marca. O blog ainda não é tudo aquilo que quero ele seja, mas é já um cantinho meu, do qual me orgulho muito e que, como costumo dizer, vai servir para mostrar um dia aos meus filhos o que mãe foi fazendo na vida. 


No blog falas de moda e lifestyle, mas também escreves sobre ti e sobre os teus sentimentos. Em que te inspiras quando escreves textos como o último que publicaste ("Sobre relações à distância ou... o amor não se mede em quilómetros")?
O "Em Saltos Altos" é inteiramente meu. E todos aqueles textos são também muito meus, no sentido literal da palavra. Tudo o escrevo, sobretudo sobre emoções, é um retrato de alguma coisa que sinto ou já senti num momento da minha vida. Sou uma pessoa péssima a lidar com emoções. Gosto muito de abraçar, de estar perto, de dizer que gosto, mas depois, quando se trata dos meus dilemas, sou péssima a exterioriza-los e a escrita sempre foi a melhor forma de o conseguir. Claro que não vou expor todos os meus dramas no blog, mas há temas que percebo que podem ser mais ou menos comuns a outras pessoas. Porque, no fundo, o que acho essencial é que as pessoas percebam que a Ana que está por trás do blog não são só vestidos, festas e maquilhagem. É uma Ana com coração e com sentimentos. Quero que isto seja um blog real.  


Este ano ingressaste também na política. Foste Diretora de Campanha e Comunicação nas últimas autárquicas da candidatura "Viva Cinfães", liderada por Bruno Rocha. 
Quando o convite surgiu eu estava muito longe de imaginar o que estava para vir: noites sem dormir, congressos, apresentações, correrias entre gráficas e freguesias... uma loucura. Mas talvez a loucura mais saudável que podia ter cometido. Foram três meses em que sinto que cresci para três anos, sabes? Conheci pessoas extraordinárias, superei-me e testei os meus limites como nunca antes. Soube daquilo que realmente sou capaz e, sobretudo, aprendi a confiar mais em mim e numa equipa que trabalhou efetivamente junta. 


Já a caminho dos 26, que retrospectiva podes fazer sobre ti, sobre a tua vida?
Eu já não sou sequer a pessoa que era no ano passado (risos). Definitivamente não sou a mesma. E acho que ainda bem! A vida só faz sentido se fores evoluindo e te fores tornando numa versão melhor de ti. Às vezes tenho dificuldade em acreditar que vou fazer 26. Ainda me sinto uma estudante universitária, porque na verdade sou, e às vezes acho que tenho os 19 anos deles, mas depois vejo-me a ir para o sofá às dez da noite e percebo que há coisas que já vão mudando (risos). E quando percebo que tenho quase 26, percebo que foram 26 muito bem vividos. Ainda não fiz tudo o que queria, mas fiz tudo a que me fui propondo. Experimentei tudo  que tive vontade, arrisquei, bati com a cabeça, fui ao fundo e voltei a reconquistar-me. A Ana dos 26 é, sem dúvida, muito focada naquilo que quer, muito consciente dos seus objetivos e das suas capacidades. É muito mais independente e dona do seu nariz. 


Nas tuas redes sociais partilhas muito de ti e do teu dia a dia, como as idas ao ginásio. E sobre isto falaste recentemente no teu blog, em que explicas que não quiseste emagrecer para parecer mais bonita, mas sim porque a Ana que apresentavas ser, não eras tu. Achas que ao partilhar este tipo de conteúdo ajudas outras pessoas?
Eu espero que sim! Quando tomas a decisão de expor a tua vida, de ter um projeto como o meu, sabes que vais sempre influenciar alguém. E, se é para influenciar, que seja com os melhores exemplos. Não decidi mudar para ter mais seguidores ou elogios, decidi mudar por mim. Parti para essa aventura e achei que partilhá-la seria uma mais valia. E tenho percebido que há muitas pessoas na mesma luta que eu e que, de alguma forma, se identificam. Eu não sou, nem aspiro ser, uma fitgirl. Sou uma miúda normal, que sempre lutou contra o peso, que se sabe roliça e com formas, mas que também sabe qual é o seu ponto de equilíbrio e o que fazer para o conseguir. E quero passar isso às pessoas: que somos tão perfeitas na medida em que nós próprias nos achamos perfeitas. O essencial é gostarmos de nós primeiro. Já passei por fases em que me odiei, em que não gostava do que via, mas também não fazia nada para mudá-lo. E também já passei por fases em que me aceitava muito bem e em que estava confiante. E é o equilíbrio entre isso, entre o não nos escravizarmos, mas sermos saudáveis e orgulhosas da nossa figura, que quero transmitir a quem me segue. 


Onde esperas estar daqui a cinco anos?
Numa ilha paradisíaca a beber água de coco não conta, pois não? (risos). Daqui a cinco anos, e é estranho como cinco anos parece pouco tempo para tudo o que quero fazer, espero estar sentada na secretária do meu gabinete de arquitetura a pensar: afinal, isto tudo valeu a pena. Espero já ter terminado o curso e estar a ter sucesso no que decidi fazer. E espero, além disso, ter feito uma série de coisas divertidas para poder contar aos meus filhos, que por essa altura também deverão estar a chegar e, quando voltar a casa, que também já espero ter nessa altura, quero sentir que fiz tudo bem e que a Ana dos 32 é ainda mais feliz que a dos 26. 


Qual é o teu maio sonho?
Tenho alguns desejos, uns mais utópicos que outros, mas sonhos, que são outra coisa, não tenho. Tenho antes muitos sonhos pequeninos que vou realizando e que vão mudando na medida em que eu própria mudo. Já sonhei trabalhar na TVI, casar-me, ir ao Brasil... Mas agora aquilo com que sonho mais vezes é que estou a desenhar qualquer coisa de que o Siza Vieira se orgulhe (risos). Aprendi com as circunstâncias da vida que os sonhos só são bons se nos fizerem lutar por eles, se nos empurrarem para a frente. Os sonhos devem ir sendo realizados para darem lugar a outros. E, às vezes, acabam por te acontecer coisas na vida e tu pensas: isto ultrapassou tudo o que podia sonhar. E, felizmente, isso tem-me acontecido muitas vezes. 


Quem é a Ana Leitão?
Isto deve ter sido o momento mais "Alta Definição" que já me aconteceu (risos). E esta é aquela pergunta para o milhão de euros. Adorava dizer-te exatamente quem sou eu, mas sinto tanto que ainda sou um produto inacabado que é muito difícil. Posso dizer-te que a Ana Leitão é, sem dúvida, uma menina feliz, sobretudo nas coisas pequeninas da vida. É chorona, sensível e dramática quando tem que ser. E, por outro lado, é lutadora, tem garra e sabe fazer valer a sua posição. Dizem que é difícil argumentar comigo porque gosto sempre de levar a melhor. Então talvez seja também um bocadinho teimosa. Sou também uma apaixonada incurável! Por tudo. Pelo meu gato, pelo meu trabalho, pelos meus amigos, pela minha família, pelo meu namorado... Por um café ao final do dia, por um pézinho na praia, por um chocolate. E deve ser essa a forma de ir vendo este mundo sempre mais ou menos colorido que me faz dizer-te que sou feliz. E que tenho a certeza de que, enquanto depender só de mim, e depende sempre, não me faltará um sorriso.  

Susana Pereira Oliveira

P.S. You rock girl!!!!

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